Veja as 12 bactérias que mais afetam a vida humana de acordo com a OMS. A lista de microorganismos contra os quais há cada vez
menos remédios eficazes convoca governos, cientistas e indústrias a
agir com urgência para criar novas opções...um alerta para todo nós. Em baixo a bactéria abaixo Campylobacter
spp é uma das
que requerem
novos remédios.
Pela segunda vez em apenas cinco meses, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) veio a público para chamar a atenção do mundo a respeito da
ameaça causada pelas bactérias super resistentes à ação dos
antibióticos. Na semana passada, a entidade divulgou uma lista com doze
famílias de microorganismos considerados de alto risco e contra os quais
as opções terapêuticas estão se esgotando. No documento dirigido aos
governos, cientistas e indústrias, a organização enfatiza a necessidade
de criação urgente de novos recursos para combater essas bactérias antes
que seja tarde demais. Em setembro do ano passado, a OMS levou o tema à
reunião dos líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU, realizada nos
Estados Unidos. Na ocasião, fez igualmente um chamamento para a
realização de ações globais.
PENICILINA SEM EFEITO
A lista divide as bactérias em categorias de acordo com a urgência na
necessidade de desenvolvimento de novos antibióticos. Na primeira, as
mais críticas, estão incluídas as que representam especial perigo a
pacientes que necessitam de recursos como ventilação mecânica ou
cateteres. Entre elas, há várias da família das enterobacterias, como a
Klebsiella e a Serratia. Esses agentes não são mais destruídos por um
grande número de antimicrobianos, incluindo a terceira geração de
cefalosporinas, a melhor opção disponível para tratar bactérias
resistentes.
Nas duas classificações seguintes encontram-se bactérias responsáveis
por doenças como intoxicação alimentar (Salmonella) e a gonorreia,
provocada pela Neisseria gonorrhoeae. Há 76 anos, uma dose apenas de
penicilina – o primeiro antibiótico do mundo – curava 100% dos casos de
gonorreia. Hoje ela não funciona mais e poucos são os remédios efetivos
para a enfermidade.
Projeções realizadas por cientistas ingleses estimam que, se nada for
feito, dez milhões de pessoas morrerão a cada ano no mundo a partir de
2050 vítimas de infecções intratáveis. Os gastos no atendimento e as
perdas nas forças produtivas somarão em torno de US$ 100 trilhões,
provocando uma redução de cerca de 3% no total da riqueza global.
Por isso a importância do alerta. Ainda é possível reverter essa
trajetória se ações concretas forem adotadas em várias frentes. Uma
delas é aumentar o investimento na criação de antibióticos – pauta do
aviso dado pela entidade. Outra é fortalecer os programas de educação
voltados aos profissionais de saúde e à população em geral. “É preciso
aumentar a conscientização de todos para o uso correto dos
antibióticos”, disse à ISTOÉ a brasileira Carmem Pessoa da Silva,
coordenadora do Programa de Vigilância Global de Resistência aos
Antimicrobianos da OMS.
Se nada for feito, em 2050 dez milhões de pessoas poderão morrer no mundo vítimas de infecções intratáveis
Tanto para médicos quanto para pacientes, a advertência deve ser
feita no sentido de evitar o uso desnecessário ou incorreto dos
medicamentos. É comum que médicos receitem antibiótico a quem não
precisa. “É necessário fazer o uso racional desses remédios”, afirma o
infectologista Ícaro Boszczowski, coordenador do Serviço de Controle de
Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Um
erro básico é o de receitar essas drogas a quem tem gripe, causada por
vírus. Antibiótico é contra bactéria. “Os hospitais devem estabelecer
políticas bem definidas de utilização”, diz Ícaro.
Do lado dos pacientes, é preciso saber que a droga precisa ser tomada
como manda o médico. Interromper o tratamento no meio porque os
sintomas sumiram só fará crescer as bactérias que até aquela altura
sobreviveram à ação do remédio. Ou seja, as resistentes.
Melhorias de infra-estrutura que envolvam saneamento básico e
ambientes hospitalares que propiciem a prevenção também são necessárias.
Por mais absurdo que pareça, hoje a adesão à prática da lavagem das
mãos não atinge 100% dos profissionais de saúde. Outro foco a ser
considerado é a batalha pelo uso adequado na agropecuária. Antibióticos
são utilizados na fabricação de rações, o que impulsiona a outra ponta
no motor de produção de bactérias resistentes. “Essas ações são
importantes para proteger também as gerações futuras”, diz a
infectologista Carmem.